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  • Serginho Neglia

Bolsonaro conseguiu o que queria?

Atualizado: 14 de ago. de 2020

Ontem, assistindo o pronunciamento do Presidente Jair Bolsonaro fiquei bastante intrigado, pois, a primeira vista parecia um suicídio político em rede nacional, de tão mau feito que foi. Difícil acreditar que alguém o tivesse orientado a isso, pois o discurso, além de mau lido, estava mau escrito. Hoje pela manhã ele declarou ter sido ele mesmo que redigiu, embora alguns afirmem que teve a ajuda do filho Carlos Bolsonaro, o que talvez explique tudo.

Faço questão de publicar aqui para a posteridade, e como demonstração de como não se deve fazer.


No início não entendi nada, e entrei na "onda" dos confusos, pois Bolsonaro é tão sonso que nos faz achar que é um ignorante, porém, hoje, acompanhando suas declarações matinais e as informações palacianas reproduzidas pela imprensa, entendi que, embora errante, sua ação foi pensada, ele tinha um objetivo.

Foto: Isac Nóbrega/PR

Até ontem, embora houvessem alguns panelaços, os brasileiros viviam em uma certa harmonia. Filhos tinham seus pais em casa, as pessoas procuravam exercitar a criatividade para driblar o tédio do confinamento, outros para buscar uma forma de sobreviver economicamente, outros se envolviam em ações de solidariedade, e o Brasil, finalmente começava a deixar as divergências políticas de lado para pensar, unidos, em como sobreviver a essa pandemia.


No campo político, muitas divergências foram deixadas de lado, alguns discursos se amenizaram, não todos é claro, e os ocupantes de cargos executivos públicos, de certa forma, tiveram algum protagonismo a frente das medidas para a contenção do vírus. Até que o Datafolha faz uma pesquisa e traz a seguinte manchete Avaliação de Bolsonaro na gestão da crise é muito pior que a de governadores e ministério, diz Datafolha”. https://bit.ly/2WI1eF7

Pronto! a Folha atinge o 'clã Bolsonaro' em seu ponto fraco, a vaidade, o egocentrismo. Bolsonaro já deu diversas demonstrações de que não aceita que NINGUÉM brilhe mais do que ele em seu governo, podem até brilhar ao lado dele, mas nunca mais do que ele, e Sérgio Moro, Onix Lorenzoni e tantos outros já tiveram demonstrações disto, só para citar os que ainda estão no governo, pois teve gente que já caiu por isso.

Mas a Folha sabe onde atingi-lo, e foi certeira. Bolsonaro perdeu protagonismo e popularidade no episódio do coronavírus, viu governadores, alguns seus desafetos e possíveis adversários, como João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ), alcançarem protagonismo e simpatia popular, enquanto ele levava panelaço. Por outro lado, a equipe do Ministério da Saúde, liderada pelo Ministro Luiz Henrique Mandetta, ganha protagonismo a parte de Bolsonaro. Mandetta é filiado ao DEM, partido dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, e compõe o quadro de ministros políticos do governo.


Foi muito para o 'clã bolsonaro' ver os outros ganharem enquanto ele perde, era a hora de tomar uma providência. Então entra em cena o 03, Carlos Bolsonaro, comandante que monitora as redes e percebeu uma queda na movimentação, que era necessário voltar a mobilizar a 'manada' bolsonarista, uma super estrutura de robôs e pessoas que seguem o clã.

Nos últimos dias, segundo relatos feitos à Folha, o núcleo digital da Presidência da República constatou uma desmobilização de perfis de direita nas redes sociais, que passaram a defender menos o presidente de ataques da esquerda.


A avaliação é a de que, diante do clima de animosidade, era hora de orientar a militância digital apontando inimigos, no caso os veículos de imprensa e os governos estaduais, mobilizando os eleitores fiéis a responderem às críticas contra a gestão federal. https://bit.ly/3bsf02U


A manifestação de ontem não buscou orientar a população, não anunciou nenhuma ação governamental na área da saúde ou da economia, não trouxe nada que pudesse justificar sua necessidade. A manifestação de Bolsonaro teve o intuito de gerar polêmica, colocar Bolsonaro no centro das discussões, atacar os governadores que tem mais popularidade do que ele, desacreditar o sua própria equipe do Ministério da Saúde, pois já que ele não ‘capitaliza’ com isso, que se explodam, e por fim, movimentar a “bonsolândia” o universo paralelo do 'clã bolsonaro' e seus seguidores.

Hoje pela manhã Bolsonaro partiu para o ataque contra João Dória, escancarando seu desconforto com as posições do governador de São Paulo, e deixando a vista algumas das motivações do seu pronunciamento.


Segundo a Folha, A radicalização do discurso adotada no pronunciamento foi uma sugestão do grupo ideológico do Palácio do Planalto, formado pelo chamado "gabinete do ódio". A estratégia, segundo assessores presidenciais, é a de tentar polarizar o debate no esforço de municiar o eleitorado bolsonarista a voltar a sair em defesa do governo. https://bit.ly/3bsf02U

Pelo que vimos ontem, em partes ele conseguiu seu objetivo, conseguiu direcionar os holofotes para ele, seus defensores, que estavam sumidos das "timelines" retornaram a ativa, e o povo brasileiro, que vivia uma fase de pacificação, voltou a se enfrentar nas redes, as animosidades voltaram, as divergências, as ofensas, e isso fortalece Bolsonaro, pois, assim como as bactérias e fungos, que se alimentam dos restos de outros seres vivos,a ‘orda bolsonarista’ se alimenta dos restos de nosso bom senso, de nossa empatia, se alimentam da parte em decomposição do caráter humano que é o ódio, o preconceito, a violência, a inveja, a ganância... por isso, fica tão difícil o diálogo com seus seguidores, pois argumentos de nada adiantam, são apenas tentativas vãs, e só a agressividade se sobrepõe.

Por outro lado, parece que desta vez ele pode ter “errado o pulo”. Agora a tarde uma analise de Mateus Camillo na Folha, demonstra que, desta vez continuam levando a pior https://bit.ly/3bud0XZ O modus operandi do governo Jair Bolsonaro nas redes sociais, liderado por seu gabinete do ódio coordenado por Carlos Bolsonaro, é baseado na tática de guerrilha. Quanto mais confronto, animosidade, ataques a adversários, mais a militância (orgânica e robótica) se engaja e defende o presidente.


Isso sempre funcionou até então. Mas, nesse momento de crise do coronavírus, Bolsonaro tem tido derrotas seguidas em seu campo de atuação predileto, as redes sociais. E, nesta terça-feira (24), em pronunciamento em cadeia nacional, não foi diferente. O núcleo ideológico sugeriu radicalizar discurso mais uma vez, com uma fala que vai contra orientações sanitárias e epidemiológicas do mundo inteiro.

A reação nas redes, no entanto, foi negativa mais uma vez.


Vamos ver onde o egocentrismo bolsonarista irá nos levar, e se ele conseguiu seu objetivo de trazer o ódio e a discórdia para dentro de nossas casas novamente.




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