Não simpatizo com Luciano Hang, nunca entrei e espero nunca entrar em uma Havan, mesmo assim acompanho o que ele diz, mesmo que, na maioria das vezes, não concorde com sua opinião e sua postura.
Compartilho esse longo vídeo para a posteridade, pois representa o depoimento desesperado de um empresário que vislumbra uma grande crise econômica a partir da pandemia por coronavírus.
Seu depoimento é importante pois, se Eike Batista representou a era PTista, Luciano Hang representa a era Bolsonaro, em estilo e comportamento. Aliado de primeira hora de Bolsonaro, em 2019, como Eike no passado, figurou na lista da Forbes dos homens mais ricos, e liderou um movimento de empresários que organizaram grande expansão em seus negócios para criarem um clima de otimismo na população, e alavancarem as reformas propostas por Guedes. Tipo assim: Tu reduz os direitos e eu contrato. Tu reduz as exigências ambientais e eu construo. Tudo em combinação com o governo. Assim, vimos a Havan espalhar estátuas da liberdade por todo o país.
Agora, Hang vê sua estratégia ser ameaçada, pois viu ruir a tentativa de Bolsonaro de minimizar o problema e prosperar a ideia de quarentena generalizada, então tenta ele mesmo reverter a situação.
Não torço por sua derrocada, mas acho que ele terá algumas lições importantes:
Primeira é que um presidente preparado é fundamental em horas de crise, pois, se ele e Bolsonaro não estivessem distraídos com as mobilizações do dia 15/03 que tinham o intuito de fortalecer Bolsonaro e “emparedar” o Congresso e o STF, teriam percebido o tamanho do problema que estava por vir. Mesmo depois das orientações do Ministério da Saúde, Hang inaugurou loja com grande festa no dia 14/03, e Bolsonaro foi ao encontro de apoiadores em Brasília. Ambos subestimaram o problema quando deveriam estar pensando em soluções e em formas de tranquilizar a população.
Hang está mordendo a língua, pois o tempo todo defende um estado mínimo, sem influência no mercado e etc…, porém agora está vendo a importância de termos um estado organizado, com profissionais qualificados, pessoas com capacidade para gerir os problemas e buscar soluções. Está vendo como toda a força não está na iniciativa privada, e como o estado, que ele tanto demoniza, precisará atuar com competência para evitar que o problema se prolongue, e socorrer empresários e trabalhadores.
Luciano Hang vê que a iniciativa privada, sozinha, não resolve os problemas de um país, pelo contrário, muitas vezes causam, como aqueles que estão se aproveitando da necessidade de álcool gel para subir absurdamente o preço. Ainda bem que nem todos são assim, e existem empresas que estão produzindo álcool gel e distribuindo aos clientes, ou vendendo a preço de custo, pois elas compreendem que não são uma ilha, que a melhor forma de não vivermos uma crise ainda maior é todo mundo colaborar para controlarmos o problema rapidamente e, para que isso aconteça, é preciso ter alguém que faça a gestão, que regule, que oriente, que direcione, que una, e esse é o papel do estado.
Hoje Luciano Hang vê como é mais difícil resolver as coisas quando temos um presidente, e sua prole, que passa o tempo todo gerando crises através de comportamentos e pronunciamentos desastrados, comentários inoportunos, quando deveriam estar concentrados, usando toda a sua energia para pensar soluções.
Luciano vê que não há como vivermos sem estado, e que fica bem pior quando a pessoa que está a frente é despreparada, pois não basta só não ser corrupto, não basta só não ser de esquerda, não basta só ser um polemista, criador de factóides, precisa ter capacidade e competência, e no caso de não ter, precisa ter bom senso para se manter calado e não piorar o que já é ruim.
Luciano Hang descobre, que não faz favor aos trabalhadores, como ele faz questão de exaltar quando diz que são os empresários que geram empregos e riqueza. Está descobrindo que na verdade são os trabalhadores que geram a riqueza, tanto com seu trabalho, quanto com seu consumo. Se não trabalham, as empresas não funcionam, e aquele monte de prédios com a estátua da Liberdade na frente não passarão de grandes elefantes brancos se não tiver ninguém para trabalhar neles.
São os empresários que geram riqueza? Então me explica como funcionarão agora que os trabalhadores não irão as suas lojas gastar seus salários? Como será a economia do Brasil se as pessoas não tiverem empregos e perderem seu poder de compra?
Luciano aprenderá que ninguém faz favor para o outro, que cada trabalhador faz jus ao seu salário, pois coloca a disposição a sua força e capacidade intelectual. Estes dias, conversando com um motorista de aplicativo eu explicava a lógica que me faz contrapor o pensamento propagado por Luciano Hang, e tantos outros que se acham os benemerentes da pátria:
Uma criança nasce, é criada, educada, capacitada por suas famílias e pelo estado, alcança a maioridade, e a partir daí coloca toda a sua força de trabalho e sua capacidade intelectual, fruto de décadas de estudo e investimento, a serviço de uma empresa, muitas vezes em troca de uma salário que mal dá para ela prover o seu sustento e de sua família, e o cara que o emprega acha que ele está fazendo um favor a esse trabalhador? A história do mundo comprova que antes da criação de qualquer sistema econômico, o homo sapiens resistiu às dificuldades, aprendeu a produzir, a criar, a manter sua sobrevivência, e esse mesmo homo sapiens gerou esse sistema, inclusive a exploração de um pelo outro, portanto, não é o mercado que importa, não é o capital, são as pessoas, são elas que criaram o sistema e tudo que está aí, e sem elas, todo o resto é uma amontoado de coisas inanimadas sem nenhuma utilidade.
Hang aprenderá que quando aderia e propagava o esculacho aos investimentos em universidades e pesquisa, estava dando um tiro no pé, pois nação sem conhecimento e inteligência, torna-se vulnerável.
Durante dia após dia, Luciano Hang usou as redes sociais para dizer que tudo o que o Brasil precisava era de Bolsonaro e seus asseclas, que a partir deles nos transformaremos em um Estados Unidos e viveríamos anos de riqueza e prosperidade. Infelizmente ele estava errado, e hoje percebe que nossos problemas são complexos e que somos frágeis, não estamos em uma ilha, e tudo que acontece no mundo nos afeta, e pode, a qualquer momento, colocar tudo a perder.
Luciano Hang percebe agora que sua prepotência, que incentivava o conflito, debochava dos adversários, se colocava em um pedestal, não contribui para o desenvolvimento de uma nação, pois qualquer nação dividida tem dificuldades em se desenvolver. Os últimos anos foram de extrema polarização, onde os conflitos só levaram o país a divisão, levando para dentro dos lares brasileiros a discórdia e desunião. Espero que perceba o quanto faz falta uma boa e amigável conversa na busca de soluções para os problemas que estão aí, e os que virão.
Também estou preocupado Luciano Hang! Você têm razão quando prevê que os problemas que virão serão grandes e complexos de se resolver, e que nosso país e nosso povo sofrerá muito com tudo isso, porém, espero que faça a sua "mea culpa", que perceba o quanto você contribuiu para esse estado de coisas.
Estarei na torcida e fazendo a minha parte para que consigamos ultrapassar essa crise.
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